quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Horto Florestal (Parque Albert Löefgren)

Parque fundado por um naturalista sueco no século XIX, dono do maior museu de madeira da América Latina e uma das principais “florestas urbanas” do mundo, conheçam esse importante parque na zona norte de São Paulo.



Fundação e Primeiros Anos

É impossível contar a história desse parque, sem antes começar pela história de seu fundador, o naturalista sueco Albert Löefgren. Tudo começa com sua chegada a São Paulo, onde estudou massivamente á fauna paulista e acabou por chefiar a parte de botânica e meteorologia da Comissão Geográfica e Geológica.

Assumiu a direção do Jardim da Luz em 1886, quando propôs sua transformação para um jardim botânico, projeto que não rendeu pelo pouco espaço do jardim, foi então, 10 anos depois em 1896 que devido a uma desapropriação do Engenho da Pedra Branca, fundou o Horto Florestal de São Paulo, fundando posteriormente a sede do Instituto Florestal do Estado de São Paulo

Em 1900, procurando reverter a devastação causada pela busca de lenha para as ferrovias e a expansão da lavoura de café. O naturalista propõe a policultura com plantas nativas de uso medicinal e industrial, em 1901 o Horto já tinha 90 mil mudas para transplante, ainda pode-se ver os pinheiros-de-brejo plantados em 1896 por ele, no chamado Arboreto Albert Löefgren, pinheiros esse que são a marca do lago menor, onde suas raízes para fora da terra, criaram pequenas ilhas.

Fundação do Museu “Octávio Vecchi” (Museu da Madeira)

Assim como a história do parque começa com a de Löefgren, a história desse museu sofre do mesmo caso. Octávio Vecchi foi um engenheiro agrônomo nascido em Portugal, veio a são paulo e foi nomeado diretor do Horto Florestal de Loreto órgão pertencente a Companhia Paulista de Estrada de Ferro.

Porém em 1927 assumiu o cargo de diretor do já citado Serviço Florestal (atual Instituto Florestal), onde insistia na preservação e reflorestamento de áreas verdes em São Paulo, devido a tanta preocupação, Vecchi inicia um projeto de coleção das espécies arbóreas nativas, que resultaria no Museu da Madeira.

Visita ao Museu da Madeira

O museu conta hoje com o maior acervo de madeiras da América Latina, o acervo é rico em detalhes com entalhes perfeitos, réplicas exatas das sementes e folhas das árvores, encaixes, cavilhas, marchetaria. O público poderá apreciar no acervo: mostruário de sementes, mostruário de madeiras de pranchas entalhadas com o fruto e folha da qual a madeira é originária, móveis e objetos confeccionados com madeiras nativas, ao lado do museu existe o marco do trópico de capricórnio.

Ainda nas proximidades, encontra-se a imagem de São João Gualberto, protetor das florestas do Estado de São Paulo. O museu ainda conta com exposições temporárias, para visitas monitoradas são R$ 3,00 por pessoa, meia para estudantes e crianças abaixo de 8 anos não pagam, horários de Terça à Sexta–feira das 9h às 12h e das 13h30min às 16h30min e Domingo das 10h às 15h30min, por cuidados técnicos em dias chuvosos o Museu não abre.

Para maiores informações:
Tel.: 11 - 2231 8555 - Ramais 2063 e 2053

Trilha do Arboreto

A trilha é um caminho muito belo, onde estão várias árvores que foram plantadas para estudo e análise, a trilha é simples, de 315 metros que com tranquilidade podem ser percorridos por 30 minutos aproximadamente. Durante o percurso é possível avistar árvores como: pinheiro japonês, canela sassapraz, coqueiro cerivá, pau-jacaré, papiá, guapuruvu, pinheiro do paraná, jacarandá e muitas outras.

Brinquedos Abandonados

Uma parte triste do parque, é que alguns de seus brinquedos que já foram ícone do parque (eu mesmo lembro em minha infância, inúmeras vezes que brinquei neles) estão desativados, por falta de uma licitação que está para sair desde de junho de 2006. O principal deles, o pedalinho em forma de cisne, com o qual era possível atravessar todo o lago menor e se aproximar das pequenas aves e das capivaras que ficam na borda do lago.

Se o pedalinho de cisne fornecia um passeio pelo lago menor, a “Chalana” (espécie de balsa) era usada no lago maior, com direito a um guia que explicava tudo sobre a fauna, flora e história do Horto Florestal, e por último, o “Trenzinho da Onça” um trenzinho em forma de onça que andava nos arredores do parque, perfeito para conhecer tudo antes do passeio.


O Horto Florestal nos dias de hoje

Apesar de alguns brinquedos fora de uso, o parque se mantem aberto ao público para visitas, junto com o museu e a sede do Instituto Florestal, um passeio muito recomendável para passeios familiares de todas as idades, especialmente para aqueles que querem simplesmente contato com mata atlântica nativa, em uma das principais florestas urbanas do mundo.

Para visitas:
Rua do Horto, 931 - Horto Florestal (próximo ao Tremembé)
Tel.: (11) 6231- 8555
E-mail: contato@hortoflorestal.com.br
Site: www.hortoflorestal.com.br
Horário: Aberto todos os dias, das 6h às 18h

Entrada Gratuita

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Museu do Crime

O que acha de um passeio por um museu que conta histórias de crimes hediondos e assassinos, com fotos de acidentes drásticos de carros e grandes tragédias, de como é uma cela por dentro, de olhar algumas amostras reais de diversas drogas, e até observar o manequim de uma pessoa esquartejada dentro de uma mala de viagem, sejam bem vindos ao Museu do Crime.

Fundação e Inauguração do Museu

Desde os anos 20, a polícia civil de São Paulo, já conta com um inúmero acervo criminal para treinamento de agentes, mas futuramente, nasce a ideia de um museu completo com tais artefatos, e aberto ao público, sendo assim, em 1952, é inaugurado o Museu do Crime, dessa vez aberto ao público.

Ficou melhor ainda quando foi transferido a sede para a atual Academia da Polícia Civil de São Paulo na Cidade Universitária, com um acervo cada vez maior continua servindo de treinamento a agentes, mas também para conhecimento e conscientização da população geral. E convidamos você leitor, a um breve passeio pelo museu.

Primeiro, para a visita é necessário RG e preencher um formulário, crianças com menos de 16 anos só com responsável e por ser parte do prédio da Academia da Polícia Civil, não é permitido shorts ou bermudas. Para explicarmos como funciona o museu, contaremos por algumas seções.

Entrada – Artefatos da Revolução de 32

Logo após o cadastro, já podemos ver artefatos utilizados na Revolução Constitucionalista de 1932, quando São Paulo se levantou contra o Brasil, por uma nova constituição nacional, granadas e demais projéteis estão amostra, cada um explicando exatamente quando foram usados, incluindo algumas fotos de artefatos e equipamentos feitos em São Paulo para levar em frente a guerra.

Ao lado, alguns cartazes sobre a história da Polícia Civil, algumas amostras reais de drogas, lícitas e ilícitas, assim como quadros de seus efeitos no corpo humano, e as respectivas penas para o uso ou venda de cada elemento.

Setor médico – Setor Carcerário

Logo mais adentro, uma parte para os fortes de estômago, além de fotos reais de horríveis tragédias e acidentes de carro, conta também com 4 fetos conservados no formol e alguns avisos sobre as sequelas que podem ser adquiridas em um aborto. Além das mais diversas curiosidades médicas.

Já o setor carcerário, tenta reproduzir com fidelidade como é uma cela de prisão, a fidelidade é tanta que a grade usada na cela, é da extinta Penitenciária Carandiru, implodida em 2002. A cela ainda propõe um jogo onde há de se adivinhar quais elementos não podem estar numa cela real.

Área Criminal

O ponto alto do passeio, considerado a seção mais famosa do museu, esse setor conta sobre crimes famosos que chocaram a sociedade e tiveram grande repercussão, nessa seção pode se encontrar a história de Preto Amaral, provável primeiro serial killer brasileiro, nascido em Minas Gerais acabou vindo pra São Paulo onde confessou o assassinato de 3 mulheres, também contem dados do recente caso do Maníaco do Parque, e de como ele enganava suas vítimas para o Parque do Estado.

Não podendo esquecer de Chico Picadilho, culpado pelo assassinato da ex-bailarina Margareth Suida. Com tesouras, facas e navalha, esquartejou a bailarina em pequenos pedaços, sendo preso. Depois de liberado, voltou a cometer o mesmo crime, dando motivo a seu apelido, hoje encontra-se sob custódia no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico Arnaldo Amado Ferreira.

Lembrando também a curiosa história de Meneguetti, conhecido também como homem-gato, ficou famoso pelos seus furtos qualificados, pego diversas vezes pela polícia, quando chegou ao seus 90 anos, foi pego ao tentar entrar pelo telhado de uma casa, foi liberado pela sua idade avançada, porém 2 anos depois, foi pego forçando a entrada de uma casa em Pinheiros. Acabou morrendo 8 anos depois, de mal súbito.

O mais interessante nessa seção, são as fotos e tiras de jornais contando os crimes, e moldes de como eram o rosto dos respectivos criminosos, na parte do crime da mala, existe até uma réplica exata de como era a mala, e um manequim representando como Maria Mercedes Féa Pistone foi esquartejada pelo seu marido, José Pistone, posta dentro da mala, e enviada para um suposto ferreiro na frança pelo porto de santos, tudo por uma suspeita de traição.

Porque Visitar o Museu?

Em meio a fotos do Edifício Joelma em chamas, acidentes trágicos de carros com bondes elétricos, fetos conservados em formol e analises completas me maníacos e assassinos, o passeio mostra diversas curiosidades sobre a Polícia Civil, bem como o modo que a mesma lida com crimes, alem de equipamentos e artefatos antigos usados por ela.

Para quem tem interesse em como a perícia policial funciona, e até mesmo um simples curioso sobre o assunto, é um passeio incrível, claro que não é feito para os que se enjoam fácil, ou não sabem lidar bem com tais assuntos, mas quem possui o minimo interesse, acabará por se divertir e aprender muito.


Museu da Polícia Civil – Museu do Crime

Praça Reynaldo Porchat, 219 – Cidade Universitária – Portão 1
Horário de visita: 13h às 17h, de terça a sexta-feira/ último sábado do mês das 9h às 12h
Entrada Franca
Idade mínima: 16 anos
Telefone: (11) 3039-3400
*Para grupos com mais de 10 pessoas é necessário agendar com antecedência.


Edifício Altino Arantes - Banespão

Ponto mais alto do centro paulistano, 3º prédio mais alto do Estado e 4º Brasileiro, ex-sede de um banco que marcou a história de São Paulo, o edifício Altino Arantes, o Banespão, tem muito o que contar.


Fundação do Banco do Estado de São Paulo

Conhecido anteriormente como Banco de Crédito Hipotecário e Agrícola do Estado de São Paulo foi fundado em 14 de Junho de 1909 com sua primeira agência aberta na cidade de Santos, com finalidade, de financiar a atividade cafeeira de São Paulo, que crescia muito na cidade, sendo primordial para o desenvolvimento de São Paulo.

Em sua fundação, sua maioria acionista provia de investidores franceses, sendo o Banco do Comercio e o Tesouro do Estado de São Paulo segundo e terceiro lugares respectivamente. Com a expansão do banco, uma sede no centro bancário de São Paulo se viu necessária, um projeto que antes seria próximo a Praça Ramos, por meio de acordos com a Santa Casa de Misericórdia, e a compra de alguns prédios vizinhos, acaba sendo transferido para a rua João Abrícola, em um dos extremos do triângulo histórico do centro de São Paulo.

Fundação do Edifício

Um projeto desenvolvido inicialmente por Plínio Botelho do Amaral, sendo modificado posteriormente para se assemelhar com o “Empire State Bulding” americano, As obras só tiveram início em 1939, com o lançamento da pedra fundamental, esperando 8 anos para ser concluído e finalmente fundado em 1947, pelo então governador Ademar de Barros.

Considerado o edifício mais alto da cidade de São Paulo, deixando para trás o antigo dono do posto e vizinho “Edifício Martinelli” um ano após sua fundação, foi considerado por uma revista francesa, como a maior estrutura de concreto armado do mundo, superando o próprio Empire State Building, maior arranha-céu do mundo, por ter mistos de concreto e ferro em sua fundação.

O edifício tem 161,22 metros de altura, 35 andares, 14 elevadores, 900 degraus e 1.119 janelas, referencia até hoje no centro de São Paulo, devido a sua grande altura, sua torre foi utilizada na década de 50 para a retransmissão da Rede Tupi de Televisão. Na década de 60, teve seu nome alterado para o atual Edifício Altino Arantes, em homenagem ao primeiro presidente do banco.

O Edifício Durante os Anos

Desde sua fundação, o edifício não sofreu muitas mudanças externas, em 1960 perde o posto de mais alto para o gigante mirante do vale, porem continua como ponto mais alto do centro de São Paulo, devido sua localização acima do vale. Em 1965 foi fundado o Museu Banespa, com o intuito de manter a memória do banco com o passar dos anos, e abrigar algumas belas obras de artes.

Foi nos anos 70 que ganhou a sua tão famosa cinta de alumínio em volta da torre, aonde foi alocado o logotipo do banco, também nessa época ganhou a bandeira do estado no topo, sendo trocada frequentemente pelos fortes ventos que batem a tal altura.

Em 1988, o hall de entrada do edifício ganha um enorme lustre de três metros de altura e 1,5 tonelada, com 150 lampadas e mais de 10.00 acessórios de cristal. No ano 2000, o Banespa é privatizado e vendido ao banco Santander, e ao contrario que se imagina, os novos donos não só não modificaram a tradicional faixada, deixando o logotipo antigo, como permaneceram com o o Museu Banespa, somente alterando o nome para Museu Santander Banespa, preservando assim a memória e a cultura paulistana presente no edifício.

O Edifício nos dias de hoje

Atualmente, o edifício fornece uma visita gratuita a torre que fornece uma visão panorâmica de toda a cidade de São Paulo, podendo ser avistados pontos turísticos do centro de São Paulo e arredores, e para dias mais claros, podendo ate mesmo avistar uma parte da serra da cantareira, no extremo norte da cidade.

No museu de entrada também gratuita, pode se ver a exposição de maquinarias e equipamentos utilizadas pelo banco, células e moedas antigas, assim como também grandes esculturas, pinturas e gravuras de grandes artistas, geralmente doadas ou usadas como quitamento de dividas.

Para entrar em contato ou fazer uma visita:

Rua João Brícola, 24 – Centro - São Paulo (Metrô São Bento)
Tel.: (11) 3249-7180 - E-mail:
museusantander@santander.com.br
Horário: De segunda a sexta, das 10h às 15h

Visita Gratuita e sem Agendamento

domingo, 17 de janeiro de 2010

Dialeto Macarrônico e Paulistano

“si você pensa qui nóis fumus imbora, nóis inganemos vocêis fingimu que fumus e vortemus, ói nois aqui traveis” “u arnestu nus convidô prum samba eli mora nu brais nóis fumu e num incontremo ninguém nóis vortemo, cuma baita duma réiva daotra veis, nóis num vai máis, nos num semo tatu”

Trechos das músicas “Ói Nois Aqui Traveis” dos Demônios da Garoa e “Samba do Arnesto” de Adoniran Barbosa.

Na grande região metropolitana de São Paulo do começo do século XX, um conjunto de gírias e expressões que proviam em sua maioria da lingua italiana, tomaram forma e ganharam status de dialeto. Conheça a origem do palavriado típico paulistano, e não se perca numa conversa paulistana, “pa vê si fica ispertu, certo mano?”

Origem do Dialeto macarrônico

Pra qualquer pessoa que convive em São Paulo, ou tem o mínimo conhecimento histórico da cidade, sabe que no começo do século XX uma grande frota de imigrantes italianos desembarcava no porto de Santos rumo a São Paulo em busca da vida melhor, mudando para sempre os hábitos e costumes da cidade e sociedade paulistana.

Logo quando desembarcavam em Santos, todos os imigrantes eram encaminhados da estação de trem até a estadia do imigrante, que existia na estação do Brás (onde hoje se encontra o Museu do Imigrante) e de lá, se espalhavam pela São Paulo, mas alguns italianos teimosos gostavam tanto do Brás que acabaram ficando por lá, e escolheram também, o Bexiga e a Barra Funda, como “bairros colônias”

Primeiros registros do dialeto

Além dos costumes e gastronomia que traziam nas malas, os italianos recém chegados tinham um problema, não dominavam o português e sofriam grande dificuldade em aprende-lo por completo, nascia aí o dialeto macarrônico, que era uma mistura do português com italiano.

O primeiro registro do dialeto em escrita, foi feito por Oswald de Andrade, no seu tabloide chamado “O Pirralho” que usava um pseudônimo de “Annibale Scipione” como o jornal era de publico alvo das classes mais ricas de São Paulo do começo do século XX, era um jeito das classes mais altas zombarem dos recém chegados imigrantes e seus problemas com a língua portuguesa.

A coisa mudou, quando Oswald deixou o posto para alguem mais novo, que tinha mais experiencia com os italianos, um rapaz chamado Alexandre Marcones Machado, que assumiu o editorial com o pseudônimo de Juó Bananère, que significa praticamente João da Bananeira, com seu estilo irreverente e debochado, Juó ironizava os maiores nomes da alta sociedade e grandes movimentos literários.

Descententes Italianos Tomam a Alta Classe literária

Essa mudança no Pirralho pode ser considerada a marca da acensão da comunidade italo-brasileira sobre os “quatrocentões” da alta classe. Assim como Bananère apareceu de repente no Pirralho, saiu do mesmo jeito, seu deboche era tanto, que acabou causando sua expulsão do Pirralho, por uma crítica pesada feita a Olavo Bilac, grande amigo de Oswald de Andrade (dono do tablóide) e que tinha dedicado uma edição para exaltar seu trabalho.

Outro Registro que vale a pena lembrar, é o livro “Brás Bexiga e Barra Funda” escrito por “Alcântara Machado” Um conjunto de contos vividos por descendentes de italianos, nesse livro, fica registrado diversas gírias e palavras ditas na época naquelas regiões, com uma nota do autor no rodapé para melhor compreensão, para fazer o download desse livro, clique aqui.

Marcas do dialeto paulistano em músicas

não foi só nos livros que ficou registrado essa transformação na linguagem paulista popular, a música, em especial o samba paulista, deixou sua marca na história com nomes de inúmeros interpretes, entre eles se destacam Adoniran Barbosa, e seus principais interpretes, Demônios da Garoa.

João Rubinato, verdadeiro nome de Adoniran, nasceu em Valinhos, interior de São Paulo, filho de imigrantes italianos de Veneza, morou em diversas cidades, até se fixar na capital com sua família, conseguiu um emprego de ator e chegou a gravar diversos filmes nos estúdios do Jacanã (o que viria a influenciar um de seus maiores sambas chamado Trem das 11), teve contato com as baixas classes paulistas e se apegou ao seus costumes e é claro, ao seu dialeto, o que veio reflitir na sua segunda vocação, de compositor e intérprete de sambas.

Adoniran falava do cotidiano paulista, e sem perceber, usava o jeito paulista de coversar, assim como os demais sambistas da época, algumas caracteristicas são: dificuldade em verbos no plural (nóis vai, nóis vortemo, nóis istava) com o som de “i” sempre antes do “s” no final da palavra (bráis de brás, luiz de luz, nóis de nós) e ausencia de "r" no final de verbo (eu não vou pedí de pedir, baile acabá de acabar) e devido sua decendencia italiana, o som de "i" no lugar de "e" (mí dê de me dê, pidir de pedir, di tanto de de tanto).

Não é só com Adoniran que podemos perceber esse tipo de linguajar, pode-se conferir Geraldo Filme, Oswaldinho da Cuíca, Germano Mathias e é claro Demonios da Garoa (clique nos nomes para baixar as musícas de cada artista). que juntos, ajudaram a divulgar e registrar essa mudança de cotidiano.

A Voz da Periferia dos Anos 90

No final dos anos 80, começo dos anos 90, uma grande influencia americana muda os habitos paulistanos, O Hip Hop que ja abalava as grandes metrópoles norte americanas como nova york desde os anos 70, chega a São Paulo para dar voz a periferia que permanecera calada por muito tempo.

Mediante a encontros na 24 de maio e algumas equipes de bailes, nasce uma nova cultura que mudaria a cara de São Paulo baseada principalmente em 5 pilares que são: o Break, o Grafite, os DJs, os MCs, e é claro o Rap. Dentre os grupos que surgiam na época, é facil destacar Racionais MCs, que com certeza foram os mais influentes na mudança de costume da juventude paulistana.

De origem em 1988 o Racionais MCs comporam grandes músicas que marcaram uma época, como "Nego Drama" e "Diário de Um Detento" A coisa realmente explodiu com a vinda da famosa banda Public Enemy para SP, com abertura de Racionais MCs.

A periferia então se mostra como uma bela referencia cultural, mostrando costumes e dialetos novos que passam a fazer parte do cotidiano da capital, algumas fonéticas macarrônicas ainda permanece, como o "e" em som de "i", "o" em som de "u" e o sumisso do "r" no final dos verbos (passá em passar). mas o estilo de fala muda para um mais sério e nem tão cantado como era o macarrônico, e sobre tudo, aparecem novas gírias.

O tão famoso "mano" paulista provavelmente veio do "bro" americano, apreviação de "brother", que significa irmão, assim como, "mano" é uma abreviação de irmão. "Mina" seria o feminino de mano, que é a abreviação de "menina" a música que mais fica evidente as duas palavras é "Os Mano e as Mina" do rapper "Xis".

Dialeto Paulistas nos Tempos Atuais

Depois da explosão Hip Hop nas periferias de São Paulo, a classe media alta se viu sem identidade cultural no dialeto, e passa a copiar algumas girias da baixa classe e o jeito de falar macarrônico, misturando tudo e fazendo uma enorme confusão, e é geramente motivo de piada para muitas pessoas, as principais celebridades a falar desse modo são: Supla, Marcos Mion, Luciano Hulk, Faustão, e o personagem sátira de "Hermes e Renato" Boça.

Além do famoso "mew" que seria uma variação do mano, pegaram a mania de encurtar as palavras que a periferia tinha, e distribuiu para outras palavras como, shops (para shopping) finde (para fim de semana) e facul (pra faculdade).

A classe média, principalmente de decendencia italiana, ainda segue com sua forte influencia italiana, mas nada mais comparado com o dialeto macarrônico de outrora, com pouquíssimas palavras italianas. O dialeto da periferia continua mudando, e tem algumas variações de antigamente, como "jhow" para o antigo mano, mas sua excencia ainda é a mesma.

e por fim, algumas gírias atuais de São Paulo, para não se perder numa conversa paulitana.

Eae, eai? - Comprimento, como se fosse um "oi"
Guia - Meio fio de rua
Ta ligado? - está entendendo?
Ué - o mesmo que o Uai mineiro
tamo na atividade - estamos presentes
Faról - Semáforo
Balada - Discoteca, Boate
Bater uma chepa, bater um bandeco - Comer
Bombeta - Boné
oloko - caramba!
Pé de Breque - Motorista lento
Pinga - cachaça, aguardente
Rato Cinza, Gambé, Coxinha - Apelido de baixo calão para policial
Sangue Bom - Pessoa de boa indole
Truta - Amigo
Vacilão, Vacilo - Pessoa descuidada
O que vira é... - O que é legal é...
Vaza - Vai embora
Dar uns boxe, dar um sacode, dar uma pea - Bater
Linchar, dar cambão, dar uma geral - Apanhar de muitas pessoas
Chaveco - conquistar uma mulher pela conversa
Cola aqui - Vem pra cá
Banca - gangue
Da hora - Legal
Abraça - até parece, o mesmo que "capaz" para os gauchos
Zica - Geralmente pra algo que da trabalho ou azar

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Centro Cultural São Paulo

Considerado o primeiro centro cultural de São Paulo, o Centro também é conhecido como centro cultural vergueiro e é considerado a alma da cultura paulistana e o centro de manifestações culturais de São Paulo.

A criação do CCSP

Tudo começou na década de 70, quando o grande terreno na vergueiro foi desapropriado pela prefeitura por causa do metrô. Feito o metrô, sobrou 300 mil metros quadrados que se cercaram de especulações. Em 1973, o prefeito Colassuono implantou um projeto chamado "Projeto Vergueiro" onde se pretendia urbanizar a área, criando um complexo de escritórios, hotéis, shopping center e uma biblioteca pública, com um prazo de término de 5 anos.

Porém, graças a Deus o projeto foi vetado pelo prefeito posterior Olavo Setúbal, que infelizmente teve de arcar com a indenização ao consórcio Prounb. Foi escalado uma comissão de bibliotecários, professores e o arquiteto Aron Cohen, com a idéia de criar uma moderna biblioteca de fácil acesso para o público. O projeto escolhido foi o de Eurico Prado Lopes e as obras deram início em 1978.

Primeiro Complexo Cultural Multi Disciplinar do Brasil

A prefeitura fez algumas alterações no projeto inicial para adaptá-lo ao de um centro cultural multidisciplinar nos moldes dos que estavam surgindo no mundo todo como o Georges Pompidou, fundado em 1977 na cidade de Paris (França). Como muitos diziam que o terreno era grande demais para abrigar apenas uma biblioteca e o próprio secretário da cultura indicava que o terreno era próprio para um centro cultural, ficou decidido, então, que o centro cultural contaria com cinema, teatro, espaço para recitais e concertos, ateliês e áreas de exposições. Os arquitetos Eurico Prado Lopes e Luiz Telles continuaram à frente do projeto.


O Centro Cultural só seria inaugurado em 13 de maio de 1982. O prefeito Reynaldo de Barros e o secretário de cultura Mário Chamie receberam um grande público entre convidados, participantes da obra e a população em geral. Após a cerimônia, os presentes percorreram as dependências do edifício, assistiram a espetáculos musicais com o Coral Paulistano e com o pianista João Carlos Martins e puderam apreciar as obras em exibição na pinacoteca.

CCSP nos dias de Hoje

A construção do complexo nunca foi finalizada, porém, ainda sim seus colossais 46.000 m² se destacava, principalmente como se integra a metrópole, localizado estrategicamente entre as avenidas vergueiro e 23 de maio, e entre as estações vergueiro e paraíso do metrô, com uma ligação com a estação vergueiro por um jardim muito bem cuidado.

Graças a suas diversas atrações e em sua maioria gratuitas ou de preços populares, tornando-se um dos espaços mais democráticos da cidade devido a sua diversa faixa de frequentadores, se firmou como o grande pólo cultural da grande São Paulo, que, em 2003, recebeu 650 mil usuários; comparada a alguns dos maiores museus e centro culturais do mundo. Conheça alguns destaques do centro cultural.

Biblioteca Sérgio Milliet

Premiada pela revista Época como A melhor biblioteca de São Paulo em 2008 (leia a matéria aqui), a Sérgio Milliet é a segunda maior biblioteca pública da cidade de São Paulo, bem como a única que é aberta aos domingos e feriados. Seu gigante acervo pode ser consultado pelo tradicional método de catálogo manual ou pelos catálogos eletrônicos em um dos computadores disponíveis para a pesquisa, sendo que mais de 70% das obras já estão digitalizadas.

A biblioteca se divide em diversas áreas, e pode-se emprestar de todas, exceto da área roxa, sendo emprestados 4 obras por pessoa, podendo apenas 2 ser do mesmo assunto.
As áreas de dividem em branca (arquivos de recortes de jornais e microfilmes), Azul (psicologia, Filosofia e religião), Vermelha (história, ciências sociais e geografia), Verde (ciências e tecnologia), Amarela (filologia, literatura e peças teatrais) e Roxa(Audiovisuais e laboratório de línguas).

Para se conhecer o regulamento por completo da biblioteca, baixar aqui (http://www.centrocultural.sp.gov.br/pdfs/Biblioteca%20-%20REGULAMENTO%20DE%20EMPR%C9STIMOS%202008.pdf) o pdf explicativo.
Informações: 3397-4079 ou pelo email bibliotecacirc@prefeitura.sp.gov.br
Horário de atendimento: de terça a sexta, das 10h às 19h45; sábados, domingos e feriados, das 10h às 16h45. Para novas inscrições, o atendimento é feito até 30 minutos antes do fechamento.

Gibiteca Henfil
Minha parte favorita do centro cultural é onde se encontra um acervo incrivelmente vasto de álbuns, gibis, revistas, Hqs, Livros de RPG e fanzines, totalizando mais de 100.000 exemplares. Entre os milhares de autores presentes na gibiteca, podem-se destacar Katsuhiro Otomo (Akira), Robert Crumb (America, Blues), Art Spiegelman (Maus) e Joe Sacco (Palestina: Na faixa de gaza e Área de Segurança: Gorazde). O usuário também pode ler números de coleções e coletâneas como a de Sandman (de Neil Gaiman), a revista Front, Calvin e Haroldo (de Bill Watterson) (meu favorito), Mafalda (de Quino) e Tintim (de Hergé).

Para se tomar de empréstimos algumas de tão variadas obras do vasto acervo da gibiteca, deve-se fazer um cadastro à parte do cadastro da biblioteca, exigindo também comprovante de residência e documento com foto. Pena que nem todos os títulos são liberados para empréstimos, vendo que são muito raros ou que já estão mais velhos; por isso recomendo uma visita calma no começo da tarde à gibiteca e ler com calma alguns títulos na sala de leitura do CCSP.

Horário de funcionamento: de terça à sexta, das 10h às 20h
Sábados, domingos e feriados (exceto Carnaval e Páscoa), das 10h às 17h.
A entrada é permitida até 30 minutos antes do fechamento.
Informações: 3397-4090 ou pelo email gibiteca@prefeitura.sp.gov.br

Arquivo Multimeio

Arquivo com um acervo de mais de 900 mil documentos sobre a cultura brasileira, que variam de temas como: arquitetura, artes cênicas, artes gráficas, cinema, imprensa, fotografia, literatura e música.

A diversidade de temas e a originalidade documental conferem a esse arquivo sua especificidade como fonte de pesquisa. A coleção é formada por registros visuais (fotografias, slides, microformas), audiovisuais (fitas de áudio, vídeo, filmes 16mm/super 8mm, DVDs) e documentos escritos (catálogos, programas, folhetos, press releases, convites, cartazes, fotos publicitárias, mapas, plantas, scripts, roteiros, textos de pesquisas e outros).

A coleção foi constituída a partir do trabalho do antigo IDART (Departamento de Informações e Documentação Artísticas), anexado ao Centro Cultural São Paulo em 1982, com a denominação de Divisão de Pesquisas. Atualmente, o Arquivo Multimeios, responsável pela guarda do material, faz parte da Divisão de Acervos, Documentação e Conservação, que conta ainda com a Coleção de Arte da Cidade, Acervo Histórico da Missão de Pesquisas Folclóricas e Discoteca Oneyda Alvarenga.

Atendimento ao público: de segunda à sexta, das 10h às 17h
O atendimento deve ser agendado com antecedência.
Informações: 3397-4039/ 3397-4040

Portanto, se quiser um bom passeio cultural por São Paulo, é mais que obrigação passar pelo CCSP. Aproveite e ligue para as informações à procura de apresentações culturais que sempre ocorrem no final de semana, visite a biblioteca e gibiteca com seus inúmeros acervos e se tem algum conhecimento histórico, arquivológico ou museológico não deve perder a chance de ir no arquivo multimeio ver alguns documentos que marcaram a cultura em São Paulo e no Brasil.

Passeio perfeito para todas as idades e classes sociais, o centro ainda conta com um enorme pátio, onde pode-se ler tranquilamente e com lanchonete diversificada; e para os ficionados em jogos de RPG, a gibiteca renfil tem uma parte destinada só a esses tipos de jogos, e com uma parte para jogos de xadrez onde sempre há ótimos jogadores a se desafiar. Com certeza o passeio pelo Centro Cultural São Paulo é um passeio para toda a família.

Para mais informações entre no site:
http://www.centrocultural.sp.gov.br/

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Triângulo Histórico

Considerado o embrião de São Paulo, as ruas XV de Novembro, São Bento e rua Direita marcam o começo do centro velho e estão presentes desde a fundação da cidade.

É chamado de triângulo histórico o caminho das 3 principais ruas, São bento, que liga o mosteiro de São Bento à Igreja de São Francisco, a 15 de novembro que se paralela a Boa Vista e pátio do colégio para se encontrar na antiga Igreja da Sé com a rua Direita, em caminho do viaduto do chá e capela do Santo Antônio de Paduá. Para facilitar, vou começar as histórias das ruas em separado.
Rua Direita

“Do lado direito, da rua direita
Olhando as vitrines coloridas eu a vi
mas quando quis me aproximar de ti não tive tempo
no movimento intenso da rua eu lhe perdi”
trecho da m
úsica “Do lado direito da rua direita” com sua interpretação mais famosa pelos “Originais do Samba”

Apesar do nome, a rua Direita tem algumas curvas e quebradas, mas em São Paulo de antigamente, era a rua mais reta perto de tantas vielas e ruas tortas do centro antigo. Entre o começo do século 19, a rua Direita sempre deu lugar às mais refinadas casas e lojas que eram o marco dourado da juventude da época. Lugares como Hotel França, Casa Garraux, o Café Acadêmico e da Chapelaria João Adolfo eram tidos como o fino de São Paulo e marcado pela sua arquitetura colonial.

Vale lembrar também do inventário deixado por Estavão Furquim, sobre uma rua que levava a capela do santo antônio de paduá, capela essa que existe até hoje, sendo a atual Igreja de Santo Antônio na praça do Patriarca, reformada, mas com o mesmo aspecto antigo.

A rua Direita já recebeu os nomes de Rua Direita de Santo Antônio (século XVI), Rua Direita da Misericórdia (séculos XVI e XVII), Rua Direita (século XVIII), Rua Floriano Peixoto (1897a1899) e finalmente, em 28/08/1899, foi restabelecida a denominação de Rua Direita, até os dias de hoje.

Atualmente, a rua mantém sua tradição de lojas e comércio que sempre teve, não tão importante como já foi, mas ainda sim de passagem obrigatória para qualquer pessoa que por ali passa em um passeio pelo centro de São Paulo.

XV de Novembro

Com um nome que remete a data da proclamação da república de 1889, certamente não seria esse o nome de uma rua que está presente desde pouco depois da fundação de São Paulo. Seu primeiro nome foi Manoel Paes Linhares, em homenagem a um suposto bandeirante que ali tinha terras.

Em sequência a rua chamaria Rua do Rosário por causa da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos que tinha no Largo do Rosário, a atual praça Antônio Prado, na outra extremidade da rua. Devido à existência da Igreja, se concentravam ali diversas pessoas ligadas à Nossa Senhora do Rosário, principalmente escravos africanos foragidos, que acabaram por se instalar nas imediações, resultando em diversas atividades ligadas ao catolicismo e a cultura africana.

Nessa epóca, segundo estudos de Nestor Goulart Reis Filho, a rua também servia de principal acesso ao porto geral, pela ladeira de mesmo nome, porto esse que não existe mais devido a canalização do rio Tamanduateí, que hoje passaria em baixo da atual rua 25 de Março.

Em metade do século 19, a rua já se consolidava como principal artéria econômica do triângulo histórico. Com tanto desenvolvimento comercial nas imediações, a Igreja do Rosário que só atraia pessoas mais pobres e descendentes de escravos, acabou por ser demolida, e as famílias que do lado moravam acabaram se espalhando para os bairros mais pobres. A Igreja acabou sendo reconstruída no Largo do Payssandú, e está lá presente até hoje, no centro do Largo, muito degradada e abandonada hoje em dia.

Como as famílias saíram, a passagem estava aberta para o desenvolvimento comercial, e assim foi! Onde antes era a Igreja, foi construído o edifício martínico prado, atual BM&F. Como o nome não fazia mais sentido, já que não tinha nenhuma Senhora do Rosário para celebrar, por um decreto de Dom Pedro II a rua muda de nome para rua da Imperatriz até finalmente em 1889 para ser finalmente chamada de XV de Novembro, em homenagem a data de aniversario da recém inaugurada república.

Entre os anos da Republica até a década de 40, São Paulo viveu a “belle epóque” e já viria a se considerar a capital econômica e cidade mais desenvolvida do Brasil, e claro, tanto desenvolvimento refletiu no triângulo e principalmente na XV de Novembro, agora tomada por bancos e gigantescos arranha-céus. Nessa época é levantado o prédio do Banespa, conhecido pelos paulistanos como “Banespão”, e fazendo enorme sombra sobre a XV de Novembro por estar no extremo norte da rua, e tomando o posto de maior edifício de São Paulo, que antes era do Martinelli como já disse nesse blog.

Tudo parecia ótimo, mas o abandono do centro histórico veio galopante nas décadas de 60 e 70 e por pura ironia, o progresso que alavancou o setor econômico acabou esquecendo seu principal embrião e migrou para pontos mais interessantes da capital, como a avenida Paulista e marginal Pinheiros.

Devido ao trabalho lento de reurbanização do centro pela prefeitura no final da década de 70, pouco a pouco foi retomado a formosidade da rua, e os bancos que tanto fizeram história na rua, permanecem lá. A transformação da rua em calçadão em todo o triângulo serviu para que grande parte da arquitetura clássica não fosse mudada, fazendo com que um passeio pela rua seja também uma pequena olhadela no passado, e para um passeio completo pela rua, é de obrigação uma visita ao banespão para se olhar todo o horizonte dessa cidade linda.

São Bento

Se a Rua Direita era a veia do comércio, a XV de novembro a veia finançeira, pode-se dizer que a Rua São Bento é a veia histórica e religiosa do triângulo, que ligava duas principais igrejas de São Paulo desde os tempos de Piratininga, o Mosteiro São Bento e A Igreja de São Francisco.

A história dessa rua nos remete aos tempos de fundação da província de São Paulo de Piratininga, como já foi dito no post desse blog sobre o Pátio do Colégio, foi fundada pelos jesuítas, a fim de educar e catequizar os índios. O principal índio foi o cacique Tibiriçá, que ajudou na construção da Igreja e foi a tribo dele a primeira a se converter ao catolicismo da companhia de Jesus. A sua tribo se localizava aonde hoje é o Largo São Bento, e foi fundada uma rua que fazia o caminho do Largo até intermédios da rua Direita, e mesmo sem nenhum registro oficial, foi batizada de Rua Martin Afonso Tibiriçá em homenagem ao nome convertido do cacique.

Já em 1600, o Pe. Fr. Mateus da Ascenção vem para a então pacata cidade de São Paulo para edificar um mosteiro e formar o primeiro núcleo comunitário. Logo que chega, é encaminhado à Câmara Municipal para explicar as intenções, e, no dia 9 de Maio do mesmo ano, lhe é fornecido o pedaço de terra mais ilustre da vila, depois do Colégio da Companhia (atual patio do colégio) que ficava na antiga casa do cacique Tibiriçá, já que o mesmo já teria falecido e sua família havia se espalhado por São Paulo. Nessa ação, podemos ver como é importante para o governo o estabelecimento de uma ordem religiosa, e que na provinciana cidade, nos seus primeiros anos, bastava pedir umas braçadas de terra que se conseguiria gratuitamente, visando desenvolvimento.

A Igreja somente seria construída em 1634, e do outro lado de sua antiga via, haveria de ser inaugurado aos 17/09/1647 o Convento de São Francisco, fazer a rua ser apelidada de “Rua que vai para São Francisco” ou “Rua de São Bento a São Francisco” exaltando o caráter religioso da via.

Em 1827 é inaugurada a faculdade de direito em São Paulo, a primeira do Brasil, no largo São Francisco ao lado do pequeno convento que até hoje está presente no largo. A rua começou a ser bastante movimentada, e por exigência dos novos estudantes (nomes como Prudente de Morais, Campos Salles, Washington Luís entre outros) cafés, bares, livrarias e diversos novos comércios acabaram brotando nas ruas próximas a faculdade, incluindo a São Bento e as outras duas do triângulo, e todas as suas vielas internas.

Até o final do seculo 19, a cidade cresceria bastante e viveria a belle epoque do começo do século. Na década de 30, a rua também é palco de outra construção que marcou época em São Paulo, o prédio Martinelli, na época o maior edifício da América Latina. Com uma de suas portarias para a rua São Bento e estabelecimentos como o Hotel São Bento e a escola de dança, a região ficou ultra valorizada.

Atualmente é de muito bom gosto o passeio do começo ao fim dessa rua, visto que os principais edifícios que fizeram história na rua ainda estão por lá, devidamente reformados. Começar no Largo São Bento, passar pelo prédio Martinelli, que não é mais o maior prédio mas ainda sim é uma visita interessante, passar pela praça do patriarca e finalmente chegar no Largo São Francisco, onde ainda está intacta a Igreja São Francisco e a já reformada e com visual deslumbrante, a faculdade de direto de São Paulo.

O Triângulo Histórico na atualidade

Depois do período de abandono que o centro histórico sofreu nos anos 80 e 90, e de um longo processo de revitalização do centro, boa parte já está recuperada. As três ruas do triângulo e suas vielas internas viraram calçadão, assim como grande parte do centro novo e velho, fazendo o passeio mais gracioso, sem carros incomodando as ruas. E para qualquer pessoa que pretende passear pelo centro histórico da cidade, é praticamente impossível deixar ignorado o triãngulo, que está de perto alcance de todos os pontos turísticos do centro.

De que outra maneira é possível ir do viaduto do Chá ate a Igreja da Sé, senão “Do lado direito da rua direita, olhando as vitrines coloridas”. Da Sé ate o Banespão, passando pelo Pátio do Colégio, sem se admirar com o comércio e os bancos da XV de Novembro? E impossível seria deixar de dar uma espiada na Igreja São Bento e seguir em frente para a faculdade de direito e a Igreja São Francisco, passando pelo edifício Martinelli, que não pela formosa Rua São Bento? Certamente que não.